ENEM 2021 - Introdução a Alda
Dizem que ninguém mais a ama. Dizem que foi uma
boa pessoa. Sua filha de doze anos não a visita nunca e
talvez raramente se lembre dela. Puseram-na numa cidade
triste de uniformes azuis e jalecos brancos, de onde não
pôde mais sair. Lá, todos gritam-lhe irritados, mal se
aproxima, ou lhe batem, como se faz com sacos de areia
para treinar os músculos.
Sei que para todos ela já não é, e ninguém lhe daria
uma maçã cheirosa, bem vermelha. Mas não é verdade
que alguém não a possa mais amar. Eu amo-a. Amo-a
quando a vejo por trás das grades de um palácio, onde se
refugiou princesa, chegada pelos caminhos da dor. Quan -
do fora do reino sente o mundo de mil lanças, e selvagem
prepara-se, posta no olhar. Amo-a quando criança brinca
na areia sem medo. Uns pés descalços, uma mulher sem
intenções. Cercada de mundo, às vezes sofrendo-o ainda.
CANÇADO, M. L. O sofredor do ver. Belo Horizonte:
Autêntica, 2015.
Ao descrever uma mulher internada em um hospital
psiquiátrico, o narrador compõe um quadro que expressa
sua percepção
a) irônica quanto aos efeitos do abandono familiar.
b) resignada em face dos métodos terapêuticos em vigor.
c) alimentada pela imersão lírica no espaço da segregação.
d) inspirada pelo universo pouco conhecido da mente
humana.
e) demarcada por uma linguagem alinhada à busca da
lucidez.
RESPOSTA:
Letra C.
Ao afirmar que a personagem feminina encontra-se
em uma “cidade triste de uniformes azuis e jalecos
brancos, de onde não pôde mais sair”, o narrador
imprime lirismo à condição de mulher internada num
hospital psiquiátrico em um espaço marcado pela
segregação e estigma.
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