ENEM 2021 - A gente não sabia se aquela draga tinha nascido ali, no
Porto, como um pé de árvore ou uma duna.
— E que fosse uma casa de peixes?
Meia dúzia de loucos e bêbados moravam dentro dela,
enraizados em suas ferragens.
Dos viventes da draga era um o meu amigo Máriopega-sapo.
[...]
Quando Mário morreu, um literato oficial, em
necrológio caprichado, chamou-o de Mário-CapturaSapo! Ai que dor!
Ao literato cujo fazia-lhe nojo a forma coloquial.
Queria captura em vez de pega para não macular (sic)
a língua nacional lá dele...
Da velha draga
Abrigo de vagabundos e de bêbados, restaram as
expressões: estar na draga, viver na draga por estar sem
dinheiro, viver na miséria
Que ora ofereço ao filólogo Aurélio Buarque de
Hollanda
Para que as registre em seus léxicos
Pois que o povo já as registrou.
BARROS, M. Gramática expositiva do chão: poesia quase toda.
Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1990 (fragmento).
Ao criticar o preciosismo linguístico do literato e ao
sugerir a dicionarização de expressões locais, o poeta
expressa uma concepção de língua que
a) contrapõe características da escrita e da fala.
b) ironiza a comunicação fora da norma-padrão.
c) substitui regionalismos por registros formais.
d) valoriza o uso de variedades populares.
e) defende novas regras gramaticais.
RESPOSTA:
Letra D.
Mário-Pega-Sapo foi homenageado em um necrológio
por um literato oficial, que alterou seu nome para
Mário-Captura-Sapo por defender a norma culta.
Esse fato desagradou ao narrador, amigo do morto,
por ser favorável ao uso da linguagem coloquial. Ele
chega a sugerir que o filólogo Aurélio Buarque de
Hollanda registre, em seus dicionários, estruturas
linguísticas consagradas pelo uso popular.
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