PET - Agora, para responder as perguntas, você precisa ler um trecho do romance “O mulato”, de Aluísio de Azevedo

Agora, para responder as perguntas, você precisa ler um trecho do romance “O mulato”, de Aluísio de Azevedo: Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: 
– Já viu o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor, porém, não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!… Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!… O senhor é um moço muito digno, muito merecedor de consideração, mas… foi forro à pia, e aqui ninguém o ignora. 
– Eu nasci escravo?!… – Sim, pesa-me dizê-lo e não o faria se a isso não fosse constrangido, mas o senhor é filho de uma escrava e nasceu também cativo. Raimundo abaixou a cabeça. Continuaram a viagem. E ali no campo, à sombra daquelas árvores colossais, por onde a espaços a lua se filtrava tristemente, ia Manoel narrando a vida do irmão com a preta Domingas. Quando, em algum ponto hesitava por delicadeza em dizer toda a verdade, o outro pedia-lhe que prosseguisse francamente, guardando na aparência uma tranquilidade fingida. O negociante contou tudo o que sabia. 
– Mas que fim levou minha mãe?… a minha verdadeira mãe? perguntou o rapaz, quando aquele terminou. Mataram-na? Venderam-na? O que fizeram com ela? – Nada disso; soube ainda há pouco que está viva… É aquela pobre idiota de São Brás. – Meus Deus! Exclamou Raimundo, querendo voltar à tapera. 
– Que é isso? Vamos! Nada de loucuras! Voltarás noutra ocasião! Calaram-se ambos. Raimundo, pela primeira vez, sentiu-se infeliz; uma nascente má vontade contra os outros homens formava-se na sua alma até aí limpa e clara; na pureza do seu caráter o desgosto punha a primeira nódoa. E, querendo reagir, uma revolução operava-se dentro dele; ideias turvas, enlodadas de ódio e de vagos desejos de vingança, iam e vinham, atirando-se raivosos contra os sólidos princípios da sua moral e da sua honestidade, como num oceano a tempestade açula contra um rochedo os negros vagalhões encapelados. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. – Mulato!

3 – O texto nos mostra que o romance trata de um tipo de preconceito. Qual preconceito é esse? Justifique.

4 – O texto apresenta indícios de um prejuízo social? Qual trecho pode comprovar essa afirmação? Como este prejuízo ainda está presente na nossa sociedade?

RESPOSTAS:
3 - Preconceito racial. Por conta de resquícios da escravidão e dos processos colonizatórios na sociedade, a miscigenação racial ainda era vista como preconceito, assim como demonstra o texto.

4 - Sim. "– Já viu o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão".

O trecho demonstra severas críticas à sociedade maranhense da época, que para Azevedo, era fortemente racista.

Está presente na nossa sociedade na forma de racismo estrutural, estereótipos entre outros.

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